Muito petróleo, poucos profissionais
Ipea estima que, nesta década, faltarão engenheiros
capacitados no setor, sobretudo para o pré-sal.
As chances também são muitas para os cargos
de níveis médio e técnico.
Por isso, há empregos
praticamente garantidos para especialistas dessa área.
E ainda dá tempo de se capacitar
Quando entraram na faculdade de engenharia mecânica,
Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro Martins, 26, não imaginavam
um mercado tão aquecido ao obterem o diploma.
Logo depois de concluírem a graduação, ambos já
estavam empregados. O primeiro no setor público e o
outro na área privada. Pessoas como eles terão lugar ainda
mais garantido no mercado de trabalho com o passar do tempo.
Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a contratação de
engenheiros capacitados nas áreas de petróleo e gás,
construção civil, mineração, biotecnologia e metrologia ficará
mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo Radar nº 12 –
Mão de obra e crescimento, divulgado pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices
O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices
de desvio de função registrados nessas áreas.
A pesquisa aponta que, entre os graduados,
apenas 38% atuam na especialidade para a
qual se formaram. Considerada apenas a necessidade
para o setor de petróleo e gás, que será o de maior
crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea), há vagas
para as mais diversas funções, também em níveis médio e
técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de 175
especialidades diferentes de atuação, desde a extração
até o refino do combustível.
As oportunidades são para cidades ou estados que têm
As oportunidades são para cidades ou estados que têm
atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco,
Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem
específicos, como soldar um tubo de condução de
petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras.
Em alguns casos, é necessário ficar longe da família
e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades
são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível
médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o de
nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um profissional mais
experiente, com diploma técnico, embolsa aproximadamente
R$ 8 mil mensais. Já os trabalhadores seniores, graduados e
com especializações têm salários de R$ 20 mil ou mais.
A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa que o
A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa que o
governo deu início, em 2003, ao Programa de Mobilização
da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp).
“Por meio do Plano Nacional de Qualificação Profissional,
os interessados podem participar de uma seleção,
lançada em edital no site www.prominp.com.br.
Eles são treinados recebendo uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”,
alerta a gerente-executiva do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai), Mônica Côrtes de Domenico.
Depois de concluir o curso em um dos 80 parceiros do programa,
como o Senai, é possível incluir o currículo em um banco de
talentos, procurado pelas mais diversas empresas.
Na capacitação, podem ser formadas pessoas de
Na capacitação, podem ser formadas pessoas de
todos os níveis, inclusive engenheiros que queiram
se especializar em áreas específicas. “Os cursos nos dão
um bom parâmetro. Eles já chegam com alguma experiência e
isso é muito positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos
as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram o
interesse e fazemos um serviço de investimento a médio e
longo prazo”, relata Cristiane Mendes, analista de Recursos
Humanos da Queiroz Galvão Óleo e Gás.
Um caminho comum mesmo no setor público. Thiago Carneiro
Um caminho comum mesmo no setor público. Thiago Carneiro
Campelo, 25 anos, ainda estava na universidade quando decidiu
prestar um concurso para a Petrobras, em 2008. Aprovado em
14º lugar, no ano seguinte foi convocado. “Quando estava
estudando, queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras
que descobri o quão interessante e promissora pode ser a área do petróleo”,
afirma.
Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da comercialização
Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da comercialização
da empresa, com produtos derivados e consultorias a empresas
em todo o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja com
frequência para atender os clientes. “O setor de energia é muito
abrangente. A vaga para a qual concorri exigia apenas a graduação
em engenharia. Aqui, temos uma nova formação”, observa.
Pensando no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação
em gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade de
migrar para o serviço mais específico em plataformas no mar
ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais rápida e
o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o regime de
confinamento, quero investir também em capacitação para
essa especialidade”, projeta o engenheiro mecânico da Petrobras.
Segundo previsto em acordo coletivo das categorias, quem
Segundo previsto em acordo coletivo das categorias, quem
trabalha em plataformas deve ter disponibilidade para ficar
15 dias confinado no mar ou em terra. Depois, são 20 dias
de folga, dependendo da atividade e do regime seguido pela empresa.
Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em
Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em
alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos
instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o investimento
em mão de obra. Por isso, quem quiser ingressar nesse
mercado precisa iniciar a qualificação agora. Um dos fatores
que mais influenciam na mudança de cargos e crescimento
dentro das empresas é a experiência. “É preciso galgar funções.
Ninguém começa sendo logo sondador (operador de guinchos
de sondas de perfuração e outros instrumentos), por exemplo.
Primeiro é preciso ser auxiliar de sondador. Assim acontece
com os torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a analista
de RH da Queiroz Galvão.
Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas
Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas
privadas é ficar atento às seleções para trainee.
Depois de escolher os melhores recém-graduados,
as empresas os fazem passar pelos mais diversos
setores até aprender o que precisam para serem
efetivados. Esse treinamento faz a diferença no crescimento
e na melhoria de salário. “Não treinamos as pessoas em vão.
Oferecer todo um preparo e depois perdê-los para o mercado
seria burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem mais
programas de retenção de talentos”, afirma Cristiane Mendes.
Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade como trampolim.
Logo após se formar, passou em uma seleção de trainee e
ingressou em uma empresa de sabão em Luziânia (GO).
Ele já sabia que de lá queria saltar para a área de petróleo e gás.
Ficou quase um ano na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro,
sua cidade natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região.
“Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa
de plataformas. A experiência que tive em Goiás contou
muito para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos
de trabalho são essenciais para o crescimento.
Os profissionais seniores são especialistas e têm
salários altíssimos. Quero chegar lá”, ressalta Álvaro.
Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil,
Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil,
até 2014, apenas para a exploração da camada do pré-sal,
é de 241 mil por dia. Em 2020, esse número sobe para
1,078 milhão barris/dia. Só para a empresa, até 2013,
está previsto um aumento de quantitativo de pessoal por
meio de concurso público de 6 mil pessoas, além de 800 mil
empregos indiretos, segundo a Petrobras. A mais recente
seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro,
com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico,
moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro.
Em Brasília, as capacitações estão nas formações de
Em Brasília, as capacitações estão nas formações de
nível superior. Há três anos, por exemplo, além dos
cursos de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB)
criou a formação em engenharia de energia. Com uma visão
ampla para atender os mercados das mais diversas formas de
geração de energia, como as renováveis e não renováveis,
a formação tem matérias específicas e abrangentes para uma
forte formação química. “Os alunos aprendem muito sobre
essa área de petróleo, refinaria, como transformar petróleo
em gasolina, diesel. É um mercado de trabalho muito amplo
e eles terão uma noção de todas as áreas, inclusive sobre
a preservação do meio ambiente, essencial nos dias atuais”,
ressalta o coordenador do curso de engenharia de
energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.