Muito petróleo, poucos profissionais
Ipea estima que, nesta década, faltarão engenheiros
capacitados no setor, sobretudo para o pré-sal. As chances
também são muitas para os cargos de níveis médio e técnico.
Por isso, há empregos praticamente garantidos para
especialistas dessa área. E ainda dá tempo de se capacitar
Quando entraram na faculdade de engenharia
mecânica, Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro
Martins, 26, não imaginavam um mercado tão
aquecido ao obterem o diploma. Logo depois de
concluírem a graduação, em 2008, ambos já
estavam empregados. O primeiro no setor
público e o outro na área privada. Pessoas
como eles terão lugar ainda mais garantido
no mercado de trabalho com o passar do tempo.
Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a
contratação de engenheiros capacitados nas
áreas de petróleo e gás, construção civil,
mineração, biotecnologia e metrologia ficará
mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo
Radar nº 12 – Mão de obra e crescimento, divulgado
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices
de desvio de função registrados nessas áreas.
A pesquisa aponta que, entre os graduados,
apenas 38% atuam na especialidade para a
qual se formaram. Considerada apenas a
necessidade para o setor de petróleo e gás,
que será o de maior crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea),
há vagas para as mais diversas funções, também em níveis
médio e técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de
175 especialidades diferentes de atuação, desde a extração
até o refino do combustível.
As oportunidades são para cidades ou estados que têm
atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco,
Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem
específicos, como soldar um tubo de condução de
petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras.
Em alguns casos, é necessário ficar longe da família
e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades
são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível
médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o
de nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um
profissional mais experiente, com diploma técnico,
embolsa aproximadamente R$ 8 mil mensais. Já os
trabalhadores seniores, graduados e com especializações
têm salários de R$ 20 mil ou mais.
A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa
que o governo deu início, em 2003, ao Programa de
Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e
Gás (Prominp). “Por meio do Plano Nacional de
Qualificação Profissional, os interessados podem
participar de uma seleção, lançada em edital no
site www.prominp.com.br. Eles são treinados recebendo
uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”, alerta a
gerente-executiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),
Mônica Côrtes de Domenico. Depois de concluir o
curso em um dos 80 parceiros do programa, como o
Senai, é possível incluir o currículo em um banco
de talentos, procurado pelas mais diversas empresas.
Na capacitação, podem ser formadas pessoas
de todos os níveis, inclusive engenheiros
que queiram se especializar em áreas específicas.
“Os cursos nos dão um bom parâmetro. Eles já
chegam com alguma experiência e isso é muito
positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos
as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram
o interesse e fazemos um serviço de investimento a
médio e longo prazo”, relata Cristiane Mendes,
analista de Recursos Humanos da Queiroz Galvão
Óleo e Gás.
Um caminho comum mesmo no setor público.
Thiago Carneiro Campelo, 25 anos, ainda estava
na universidade quando decidiu prestar um concurso
para a Petrobras, em 2008. Aprovado em 14º lugar,
no ano seguinte foi convocado. “Quando estava estudando,
queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras que
descobri o quão interessante e promissora pode ser a área
do petróleo”, afirma.
Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da
comercialização da empresa, com produtos
derivados e consultorias a empresas em todo
o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja
com frequência para atender os clientes. “O setor
de energia é muito abrangente. A vaga para a qual
concorri exigia apenas a graduação em engenharia.
Aqui, temos uma nova formação”, observa. Pensando
no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação em
gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade
de migrar para o serviço mais específico em plataformas
no mar ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais
rápida e o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o
regime de confinamento, quero investir também
em capacitação para essa especialidade”, projeta o engenheiro
mecânico da Petrobras.
Segundo previsto em acordo coletivo das categorias,
quem trabalha em plataformas deve ter disponibilidade
para ficar 15 dias confinado no mar ou em terra. Depois,
são 20 dias de folga, dependendo da atividade e do regime
seguido pela empresa.
Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em
alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos
instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o
investimento em mão de obra. Por isso, quem quiser
ingressar nesse mercado precisa iniciar a qualificação agora.
Um dos fatores que mais influenciam na mudança de cargos e
crescimento dentro das empresas é a experiência. “É preciso
galgar funções. Ninguém começa sendo logo sondador
(operador de guinchos de sondas de perfuração e
outros instrumentos), por exemplo. Primeiro é preciso
ser auxiliar de sondador. Assim acontece com os
torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a
analista de RH da Queiroz Galvão.
Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas
privadas é ficar atento às seleções para trainee
(veja matéria na página 3). Depois de escolher os
melhores recém-graduados, as empresas os fazem
passar pelos mais diversos setores até aprender o
que precisam para serem efetivados. Esse treinamento
faz a diferença no crescimento e na melhoria de salário.
“Não treinamos as pessoas em vão. Oferecer todo um
preparo e depois perdê-los para o mercado seria
burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem
mais programas de retenção de talentos”, afirma
Cristiane Mendes.
Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade
como trampolim. Logo após se formar, passou em
uma seleção de trainee e ingressou em uma empresa
de sabão em Luziânia (GO). Ele já sabia que de lá queria
saltar para a área de petróleo e gás. Ficou quase um ano
na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade
natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região.
“Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa de
plataformas. A experiência que tive em Goiás contou muito
para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos de
trabalho são essenciais para o crescimento. Os profissionais
seniores são especialistas e têm salários altíssimos. Quero chegar lá”,
ressalta Álvaro.
Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil, até 2014,
apenas para a exploração da camada do pré-sal, é de 241
mil por dia. Em 2020, esse número sobe para 1,078 milhão barris/dia.
Só para a empresa, até 2013, está previsto um aumento de
quantitativo de pessoal por meio de concurso público de 6 mil
pessoas, além de 800 mil empregos indiretos, segundo a Petrobras.
A mais recente seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro,
com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico,
moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro.
Em Brasília, as capacitações estão nas formações de nível
superior. Há três anos, por exemplo, além dos cursos
de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB) criou
a formação em engenharia de energia. Com uma visão ampla
para atender os mercados das mais diversas formas de geração
de energia, como as renováveis e não renováveis, a formação tem
matérias específicas e abrangentes para uma forte formação
química. “Os alunos aprendem muito sobre essa área de
petróleo, refinaria, como transformar petróleo em gasolina,
diesel. É um mercado de trabalho muito amplo e eles terão uma
noção de todas as áreas, inclusive sobre a preservação do meio
ambiente, essencial nos dias atuais”, ressalta o coordenador do
curso de engenharia de energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.
mecânica, Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro
Martins, 26, não imaginavam um mercado tão
aquecido ao obterem o diploma. Logo depois de
concluírem a graduação, em 2008, ambos já
estavam empregados. O primeiro no setor
público e o outro na área privada. Pessoas
como eles terão lugar ainda mais garantido
no mercado de trabalho com o passar do tempo.
Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a
contratação de engenheiros capacitados nas
áreas de petróleo e gás, construção civil,
mineração, biotecnologia e metrologia ficará
mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo
Radar nº 12 – Mão de obra e crescimento, divulgado
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices
de desvio de função registrados nessas áreas.
A pesquisa aponta que, entre os graduados,
apenas 38% atuam na especialidade para a
qual se formaram. Considerada apenas a
necessidade para o setor de petróleo e gás,
que será o de maior crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea),
há vagas para as mais diversas funções, também em níveis
médio e técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de
175 especialidades diferentes de atuação, desde a extração
até o refino do combustível.
As oportunidades são para cidades ou estados que têm
atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco,
Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem
específicos, como soldar um tubo de condução de
petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras.
Em alguns casos, é necessário ficar longe da família
e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades
são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível
médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o
de nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um
profissional mais experiente, com diploma técnico,
embolsa aproximadamente R$ 8 mil mensais. Já os
trabalhadores seniores, graduados e com especializações
têm salários de R$ 20 mil ou mais.
A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa
que o governo deu início, em 2003, ao Programa de
Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e
Gás (Prominp). “Por meio do Plano Nacional de
Qualificação Profissional, os interessados podem
participar de uma seleção, lançada em edital no
site www.prominp.com.br. Eles são treinados recebendo
uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”, alerta a
gerente-executiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),
Mônica Côrtes de Domenico. Depois de concluir o
curso em um dos 80 parceiros do programa, como o
Senai, é possível incluir o currículo em um banco
de talentos, procurado pelas mais diversas empresas.
Na capacitação, podem ser formadas pessoas
de todos os níveis, inclusive engenheiros
que queiram se especializar em áreas específicas.
“Os cursos nos dão um bom parâmetro. Eles já
chegam com alguma experiência e isso é muito
positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos
as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram
o interesse e fazemos um serviço de investimento a
médio e longo prazo”, relata Cristiane Mendes,
analista de Recursos Humanos da Queiroz Galvão
Óleo e Gás.
Um caminho comum mesmo no setor público.
Thiago Carneiro Campelo, 25 anos, ainda estava
na universidade quando decidiu prestar um concurso
para a Petrobras, em 2008. Aprovado em 14º lugar,
no ano seguinte foi convocado. “Quando estava estudando,
queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras que
descobri o quão interessante e promissora pode ser a área
do petróleo”, afirma.
Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da
comercialização da empresa, com produtos
derivados e consultorias a empresas em todo
o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja
com frequência para atender os clientes. “O setor
de energia é muito abrangente. A vaga para a qual
concorri exigia apenas a graduação em engenharia.
Aqui, temos uma nova formação”, observa. Pensando
no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação em
gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade
de migrar para o serviço mais específico em plataformas
no mar ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais
rápida e o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o
regime de confinamento, quero investir também
em capacitação para essa especialidade”, projeta o engenheiro
mecânico da Petrobras.
Segundo previsto em acordo coletivo das categorias,
quem trabalha em plataformas deve ter disponibilidade
para ficar 15 dias confinado no mar ou em terra. Depois,
são 20 dias de folga, dependendo da atividade e do regime
seguido pela empresa.
Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em
alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos
instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o
investimento em mão de obra. Por isso, quem quiser
ingressar nesse mercado precisa iniciar a qualificação agora.
Um dos fatores que mais influenciam na mudança de cargos e
crescimento dentro das empresas é a experiência. “É preciso
galgar funções. Ninguém começa sendo logo sondador
(operador de guinchos de sondas de perfuração e
outros instrumentos), por exemplo. Primeiro é preciso
ser auxiliar de sondador. Assim acontece com os
torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a
analista de RH da Queiroz Galvão.
Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas
privadas é ficar atento às seleções para trainee
(veja matéria na página 3). Depois de escolher os
melhores recém-graduados, as empresas os fazem
passar pelos mais diversos setores até aprender o
que precisam para serem efetivados. Esse treinamento
faz a diferença no crescimento e na melhoria de salário.
“Não treinamos as pessoas em vão. Oferecer todo um
preparo e depois perdê-los para o mercado seria
burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem
mais programas de retenção de talentos”, afirma
Cristiane Mendes.
Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade
como trampolim. Logo após se formar, passou em
uma seleção de trainee e ingressou em uma empresa
de sabão em Luziânia (GO). Ele já sabia que de lá queria
saltar para a área de petróleo e gás. Ficou quase um ano
na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade
natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região.
“Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa de
plataformas. A experiência que tive em Goiás contou muito
para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos de
trabalho são essenciais para o crescimento. Os profissionais
seniores são especialistas e têm salários altíssimos. Quero chegar lá”,
ressalta Álvaro.
Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil, até 2014,
apenas para a exploração da camada do pré-sal, é de 241
mil por dia. Em 2020, esse número sobe para 1,078 milhão barris/dia.
Só para a empresa, até 2013, está previsto um aumento de
quantitativo de pessoal por meio de concurso público de 6 mil
pessoas, além de 800 mil empregos indiretos, segundo a Petrobras.
A mais recente seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro,
com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico,
moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro.
Em Brasília, as capacitações estão nas formações de nível
superior. Há três anos, por exemplo, além dos cursos
de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB) criou
a formação em engenharia de energia. Com uma visão ampla
para atender os mercados das mais diversas formas de geração
de energia, como as renováveis e não renováveis, a formação tem
matérias específicas e abrangentes para uma forte formação
química. “Os alunos aprendem muito sobre essa área de
petróleo, refinaria, como transformar petróleo em gasolina,
diesel. É um mercado de trabalho muito amplo e eles terão uma
noção de todas as áreas, inclusive sobre a preservação do meio
ambiente, essencial nos dias atuais”, ressalta o coordenador do
curso de engenharia de energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.
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