Gelo de fogo: energia para o Japão
País se torna primeiro a extrair metano do fundo do mar
Fonte: O Globo -
O Japão anunciou ontem ter conseguido, pela primeira vez, extrair gás de um depósito marinho de hidrato de metano — também chamado de "gelo inflamável". Para autoridades e especialistas, um passo importante em direção a uma promissora, mas ainda pouco compreendida, fonte de energia, sobretudo no que diz respeito a sua contribuição às mudanças climáticas, segundo matéria publicada no jornal New York Times.
O gás que foi extraído de hidrato do metano submarino pode ser uma fonte alternativa de energia para conhecidas reservas de petróleo e gás natural. Isso poderia ser crucial, especialmente para o Japão, que é o maior importador mundial de gás natural liquefeito e está envolvido em um angustiante debate público sobre a forte dependência do país de energia nuclear.
Especialistas estimam que a quantidade de carvão encontrada em hidratos de gás em todo o mundo é pelo menos o dobro da quantidade de carvão presente em todos os combustíveis fósseis do planeta, tornando-se um fator potencial para mudar o jogo de países pobres em energia, como o Japão. Pesquisadores já haviam extraído com sucesso gás em reservatórios de hidrato de metano em terra, mas não a partir do leito marinho, onde a maior parte dos depósitos estão.
O Japão tem investido centenas de milhões de dólares, desde o início os anos 2000, para explorar as reservas de hidrato de metano do mar, tanto no Pacífico quanto no Mar do Japão. A ideia ganhou ainda mais força depois da crise nuclear de Fukushima, que paralisou o programa de energia nuclear do Japão e provocou um aumento das importações de combustíveis fósseis.
O ministério japonês da Economia, Comércio e Indústria disse que uma equipe a bordo do navio de perfuração experimental científica Chikyu começou a extração de gás de hidratos de metano de uma camada de cerca de 300 metros abaixo do leito do mar, na manhã de ontem. O navio está trabalhando na perfuração desde janeiro em uma área do Pacífico com cerca de 1.000 metros de profundidade e a 80 quilômetros ao sul da Península Atsumi.
Com equipamentos especializados, a equipe baixou a pressão nas reservas submarinas de hidrato de metano, causando a separação entre metano e gelo. Horas mais tarde, uma ruptura na popa do navio mostrou que estava sendo produzido gás, informou o ministério.
— O Japão poderia, finalmente, ter uma fonte de energia para chamar de sua — disse Takami Kawamoto, um porta-voz da Corporação Nacional Japonesa de Óleo, Gás e Metais (Jogmec), estatal que conduz a extração experimental.
A equipe vai continuar o processo por cerca de duas semanas, antes de analisar a quantidade de gás que foi produzido, informou a Jogmec. O Japão espera tornar a tecnologia de extração comercialmente viável em cinco anos.
— Esta é a primeira produção experimental de gás a partir de hidrato de metano, e eu espero que sejamos capazes de confirmar a produção estável de gás — disse Toshimitsu Motegi, ministro do Comércio japonês.
Ele reconheceu que esse processo de extração ainda enfrenta obstáculos técnicos e outros problemas. Ainda assim, “o gás de xisto já foi tecnicamente considerado difícil de extrair, mas agora é produzido em grande escala”, lembrou.
— Ao enfrentar estes desafios um por um, nós poderíamos começar logo a tocar nos recursos que cercam o Japão.
A Jogmec estima que a área onde se encontra o submarino Nankai, detém pelo menos 1,1 trilhão de metros cúbicos de hidrato de metano, o suficiente para substituir por 11 anos as importações de gás do Japão.
A estimativa aproximada do Instituto Nacional de Ciência Industrial Avançada e Tecnologia colocou o montante total de hidrato de metano em águas japonesas em mais de 7 trilhões de metros cúbicos, ou o que os pesquisadores dizem que atenderia 100 anos da necessidade de gás natural do Japão.
— Agora nós sabemos que a extração é possível — disse Mikio Satoh, um pesquisador sênior em geologia marinha no instituto. — O próximo passo é ver a quanto o Japão pode baixar os custos para tornar a tecnologia economicamente viável.
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