TURMA DO PETRÓLEO

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segunda-feira, 30 de abril de 2012


O patinho feio dos marítimos

O transporte marítimo nos últimos anos virou o patinho feio dos marítimos. Ninguém quer embarcar na cabotagem, nem no longo curso, nem mesmo em rebocadores. Todos querem embarcar em unidades offshore. Bem, respeito essa unanimidade, mas é bom lembrar que muitas vezes, quando todos têm a mesma opinião sobre algo, geralmente tem algo errado, como eu, neste texto, quero dizer que tem em relação à rejeição aos navios. 
Entre as causas, como todos sabem, estão o regime, mais folgado e os salários, razoavelmente maiores.
Bem, não vou entrar no mérito de uma pessoa olhar um salário de R$ 11 mil reais e dizer que é “muito baixo”. Eu vivo no Brasil e acredito que a maioria aqui também viva.
Navios andam, plataformas ficam paradas. Nos navios, já se pode embarcar no 1 por 1, 28 dias, dos quais, geralmente, a cada três você está em terra, matando as saudades de tomar um bom chope, descansar um pouco e, dependendo do porto, dá até para fazer uma visita em casa. Na plataforma, bem, são 14 dias, às vezes um pouco mais.
Não sei o que é melhor, nem pior, mas defendo a diferença entre as carreiras. Não há nada como passar a vida viajando o mundo, como um nobre comandante que conheci num navio da Transpetro, quando eu era da EFOMM. Ele conhecia nada menos que 138 países e falava quatro línguas.
Detalhe: Fazia isso tudo, ganhando um salário que só é baixo em relação a quem trabalha em plataformas, porque em se tratando do país inteiro (falei que não ia entrar nesse mérito, mas…), ser oficial de navio ainda se enquadra nos salários top.
Um outro aspecto relevante é como o transporte marítimo é depreciado. Nas plataformas, o carro chefe é o petróleo. Por outro lado, na cabotagem e no longo curso temos nada menos do que a economia do Brasil inteira. Logística intermodal e portuária são assuntos cada vez mais em voga. E dinheiro é o que não vai faltar…Cargos de gerência em terra também não. Aliás, muitos amigos meus, mais modernos do que meus veteranos, que estão começando a ir para terra agora, já estão trabalhando em escritórios de empresas de navegação.
Bem, se eu fosse mercante, hoje, com a experiência que eu tenho, com as conversas que tive com tantas pessoas do meio, eu embarcaria em navios. Ora cabotagem, ora longo curso. Prefiro muito mais passar dias viajando do que parado. E a possibilidade de conhecer outros países? E a necessidade de “empurrar água” para um bom currículo? Eu acho que quem embarca em navios VIVE mais à bordo, em vez de ficar plantado num único lugar, perfurando, sondando, armazenando…
Essa é apenas a minha opinião e respeito muitíssimo quem prefere o offshore. No entanto, venho jogar luz em cima daquelas tantas pessoas, que se dizem mercantes, mas na verdade estão apenas cegas pelo dinheiro, trocando por grana, uma carreira onde poderiam ser realmente felizes.
Aos praticantes, sugiro que conversem bastante com gente experiente. Gente que conhece as plataformas, barcos de apoio, navios gaseiros, conteineiros, navios tanque, navios de cruzeiros…Tudo! Procurem tomar decisões acertadas em relação aos embarques que realizarão, e vamos desfazer este estigma de olhar só para o salário e benefícios, lembrando que por trás disso existe uma carreira, uma vida, um ideal, um objetivo.
Se você pensou nisso com carinho e optou pelo offshore, fico grato! Não quero puxar a brasa para lado nenhum, apenas acho pertinente que se tenha cuidado ao avaliar o verdadeiro panteão da história da Marinha Mercante, que não são as unidades offshore, mas os navios.
Um abraço, pessoal!
Por Marcus Lotfi

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