TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

sexta-feira, 22 de março de 2013


Faz sentido colocar em risco o ecossistema da Foz do Amazonas em nome do petróleo?

Bióloga questiona riscos da exploração na área mais cobiçada do próximo leilão de petróleo
Colaboradora Rachel Ann Hauser Davis -
Recentemente, a Bacia da Foz do Amazonas se tornouuma das áreas mais desejadas das empresas internacionais interessadas na exploração de petróleo, por conta da descoberta, no litoral da vizinha Guiana Francesa, em 2011, de grandes reservatórios exploráveis de petróleo. Antes de entrar no mérito dos possíveis – ou melhor, certos – impactos ambientais nesta área, decorrentes deste tipo de atividade, devemos analisar um pouco a região por um prisma geográfico e biológico.
A bacia amazônica abrange uma área de 7 milhões de km², compreendendo terras de vários países da América do Sul (Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Bolívia e Brasil). É a maior bacia fluvial do mundo. De sua área total, cerca de 3,89 milhões de km² (45%) encontram-se no Brasil, abrangendo os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Amapá. A floresta amazônica, incluindo sua bacia hidrográfica, é considerada patrimônio mundial pela UNESCO, e é a mais rica floresta tropical do mundo em termos de biodiversidade (mais de um terço de todas as espécies no mundo vivem nela). Lá se encontram uma das maiores concentrações de água doce e enormes extensões de terras ainda com cobertura florestal.
Em sua foz, o rio Amazonas se divide em dois braços: o braço norte é o mais largo e corresponde ao verdadeiro estuário; o braço sul é conhecido pelos nomes de rio Pará e baía de Marajó. No estuário, a floresta encontra-se parcialmente inundada, com seus períodos de enchentes e vazantes, os ecossistemas de várzea, manguezais e terra firme. É uma enorme área composta pelas embocaduras dos rios Amazonas e Tocantins, cuja biodiversidade apresenta altas taxas de fitoplâncton. É ainda a zona de contato da água doce com a água salgada, dinâmica importante para a vida no estuário, onde os recursos de água doce se alternam com os do mar. Mais além, estuários são regiões consideradas como berçários para a reprodução da biodiversidade aquática.
Agora que conhecemos mais acerca da bacia, pensando apenas nos impactos mais óbvios deste tipo de exploração, como atividades mecânicas de perfuração que causam erosão do solo, a liberação de material particulado tóxico, as possibilidades de vazamento de óleo e a geração de outros tipos de resíduos, contaminando os ecossistemas locais, estamos praticamente implorando para iniciar o processo de degradação de uma área frágil e extremamente importante em um cenário mundial.
Aliado a isso, ainda existe o fato da possível perda de vida humana devido ao interesse puramente econômico de explorar uma área onde as águas são extremamente revoltas. Há dois anos, por exemplo, uma sonda de perfuração a serviço da Petrobras foi arrastada pela correnteza presente na área. Nesse caso não houve vítimas, mas os riscos à integridade física da tripulação, dos equipamentos e da segurança ambiental levaram a companhia a abandonar o poço no último ano. O desastre só foi revelado pela Petrobras em setembro de 2012, na conferência Rio Oil & Gás, no Rio. Na época, o diretor de Exploração e Produção, José Formigli Filho, minimizou o episódio e informou que a sonda havia sofrido forte pressão da correnteza e apenas se inclinado, sem ter se soltado da ancoragem. Agora, imaginem essa situação com embarcações tripuladas, com a quantidade de trabalhadores necessários neste tipo de empreendimento.
Caros leitores, eu lhes pergunto com toda a seriedade do mundo: vale realmente a pena destruir um ecossistema deste tipo – um (ainda) refúgio ecológico; onde se sabe muito pouco acerca das espécies (animais e vegetais) presentes no local, que poderiam, por exemplo, nos fornecer a cura para muitas doenças; e que foi eleita, em 2011, como uma das sete novas maravilhas do mundo – em nome da exploração petrolífera? Faz sentido?
A autora
Rachel Ann Hauser Davis é bióloga, Doutora em Química Analítica pela PUC-Rio e professora e pesquisadora da UNICAMP. Faz parte do GEPAM - Grupo de Espectrometria, Preparo de Amostras e Mecanização.

SMS deve deixar de ser visto como custo e ser entendido como investimento, diz Luiz Nathan

Especialista em segurança do trabalho avalia como o profissional com cultura de SMS é reconhecido pelo mercado
NNpetro – Júlia Moura - 
O custo total dos acidentes de trabalho no Brasil está em torno de R$ 70 bilhões por ano, segundo dados levantados pelo sociólogo José Pastore, da Universidade de São Paulo. A indústria de Óleo & Gás cresce em um ritmo ainda mair: são cerca de R$ 354 bilhões em investimentos projetados, pelo BNDES, para o período entre 2012 e 2015. Para garantir crescimento com qualidade, o setor busca otimização de tempo, custo e trabalho.
Evitar danos ao meio ambiente, às instalações e equipamentos é visto pelo mercado como um valor da empresa, segundo o especialista em segurança do trabalho, Luis Nathan, que irá ministrar em abril o curso de SMS do Programa de Capacitação do NN (PCNN).  Em entrevista ao portal, Nathan explica o que é este sistema de gestão de projetos, como o mercado valoriza o profissional formado em SMS e a importância deste segmento para a indústria. “Acertando processos para evitar danos às pessoas, meio ambiente e ao patrimônio, certamente a empresa está ganhando”, avalia.

1X) NNpetro - O que é Sistema de Gestão SMS?
Luis Nathan - SMS é uma sigla que significa: Segurança do trabalho, Meio Ambiente e Saúde Ocupacional.  Estas três disciplinas em conjunto formam um sistema que tem por objetivo definir atribuições e responsabilidades de profissionais e empresas, com o intuito de assegurar a integridade de pessoas, evitar danos ao meio ambiente e às instalações e/ou equipamentos.
Hoje em dia, o SMS é um valor da empresa, pois configura na melhor maneira de atingir os objetivos mencionados acima, atendendo os requisitos da legislação e os requisitos do mercado, fazendo com que a empresa seja vista pela sociedade como uma organização que preza pelo bem estar desta, além de obter pontos positivos na área operacional, com melhores resultados financeiros, ou seja, o SMS deve deixar de ser visto como “custo” e ser entendido como “investimento”, pois a melhoria de processos passa pela análise e realização de ações preventivas que protegerão os recursos, humanos e tecnológicos, de uma organização.
2X) NNpetro - Qual a importância do conhecimento nesta área? Tem como mensurar como o SMS é importante para o profissional que atua no mercado de óleo e gás?
O conhecimento nesta área é de suma importância para o sucesso de qualquer empresa, pois hoje em dia, a empresa que não possui gestão, pelo menos o mínimo de organização no que se refere ao meio ambiente, à segurança e saúde do trabalhador, está fadada a ter uma série de problemas, que levarão a pesados prejuízos. A organização não terá condição de evitar os problemas e nem sequer de resolvê-los. Imaginem uma empresa que desconhece o processo de obtenção de uma licença ambiental. Certamente esta empresa está agindo contra a lei, sofrerá pesadas sanções e o gasto para resolver o problema será muito maior, talvez até impossibilitando o negócio.
Sim, é possível mensurar a importância do SMS. Façamos uma lista simples dos custos envolvidos em um acidente: custos médicos; danos aos equipamentos; dtrasos e interrupções na produção; gastos legais; tempo de investigação de um acidente; perda de imagem; queda de produção e moral afetada. Certamente, uma empresa que tem por objetivo maior, gerar lucro, não sobreviverá com os problemas acima.
Segundo o professor José Pastore, da Universidade de São Paulo, o custo total dos acidentes de trabalho no Brasil é de cerca de R$70 bilhões por ano. Sendo assim, vamos nos questionar mais uma vez: vale a pena ter o SMS implantado em nossa empresa? Por último, pensem também naquilo que não pode ser medido, ou seja, o dano emocional causado ao trabalhador e seus familiares.
3X) NNpetro - Quais as chances no mercado para quem conhece mais sobre SMS? Quais os benefícios da utilização de um sistema de gestão integrada de SMS para as empresas do setor de O&G?
Hoje em dia, o profissional que conhece os conceitos básicos de SMS possui uma grande valorização, pois o mercado reconhece que este profissional tem condições de ajudar no desenvolvimento do negócio, afinal, se o profissional tem conhecimento para agir preventivamente, evitando, ou melhor, acertando processos para evitar danos às pessoas, meio ambiente e ao patrimônio, certamente a empresa está ganhando. E os conceitos de SMS não são responsabilidade exclusiva de técnicos e engenheiros de segurança, e sim de todos, pois o SMS tem interface com todos os setores, e quanto mais os profissionais das outras áreas possuem uma cultura em SMS, mais facilmente as metas serão alcançadas por toda a organização.
Vamos analisar um simples exemplo. Pensem no seguinte cenário: Um profissional de logística que não tem conhecimento em SMS, e realiza a contratação de uma empresa para o transporte de produtos perigosos, somente com base em uma análise comercial. A empresa contratada não tem motoristas qualificados para este tipo de carregamento, os caminhões não sofrem manutenção adequada, não há nenhuma preparação em caso de emergência, etc. Esta contratação trará solução ou problema para a organização? Qual a chance de termos um acidente? Pensem nisso.
Outros benefícios, listados de maneira sucinta e clara, são: assegurar a integridade física dos colaboradores; assegurar que o meio ambiente não será afetado pelas operações e a legislação ambiental será respeitada; melhor gerenciamento dos riscos; garantir que a empresa esteja alinhada com as diretrizes dos requisitos internos, requisitos legais e requisitos do mercado; melhorar eficácia operacional; melhorar a satisfação do cliente; além de proteger a marca.
4X) O que os alunos podem esperar do curso?
Este treinamento tem por objetivo auxiliar que os primeiros passos no estudo do sistema de gestão sejam dados, de forma a discutir desde conceitos básicos de SMS, até as ferramentas que ajudam a pôr em prática as teorias e regras, visando com que todos os profissionais tenham em mente de maneira bem clara o que deve ser discutido em cada empresa para estabelecer o caminho que pode ser seguido para obter um sistema eficaz.
5X) Como professor, quais as sua expectativas para o curso?
Minha expectativa é poder servir como mediador de um fórum, onde os principais tópicos de um sistema de gestão serão estudados, analisados e discutidos, para que cada aluno possa extrair o melhor para usar no dia-a-dia do mercado.

Da autossuficiência em petróleo ao preço do combustível: a necessidade de se investir em refinarias

Petrobras conta hoje com 14 refinarias em atividade, número insuficiente para abastecer o país
Colunista Paulo Wrobel 
A primeira refinaria de petróleo construída no Brasil teve lugar em 1949 na Bahia, junto às primeiras explorações de petróleo no Recôncavo Baiano. Hoje, o país conta com 16 refinarias (14 públicas e 2 privadas) e 5 em construção, produzindo derivados para abastecer a frota de veículos do país e a indústria petroquímica. Contudo, a capacidade de refino brasileira está bem aquém da demanda, particularmente por gasolina e óleo diesel, o que vem gerando continuados déficits no item combustível, na balança comercial do país.
Não adianta apenas ser um grande produtor de petróleo se não há capacidade de transformá-lo em produtos de consumo, tais como gasolina, óleo diesel, óleo combustível, querosene de aviação e muitos outros produtos fundamentais para mover a economia e sustentar uma forte indústria petroquímica. Se um país não possui capacidade própria de refino, não lhe resta outra alternativa que não seja a importação.
Em 2008, anunciou-se com alarde que o Brasil havia alcançado a autossuficiência na produção de petróleo. Esta época, que coincidiu com o forte crescimento na produção e consumo de etanol, parecia uma promessa de que o Brasil estaria no caminho da independência, no consumo de combustíveis líquidos para transporte, e, portanto, da segurança energética.
Sem embargo, a importação de derivados de petróleo, particularmente gasolina e óleo diesel, cresceu exponencialmente nesses últimos cinco anos, além de declinar significativamente a oferta de etanol. No caso dos derivados de petróleo, a razão para a elevação das importações é o esgotamento da capacidade de refino do país.
Após o maciço investimento em refinarias nos anos 1960 e 1970, o que ocasionou a produção excedente de gasolina e, até mesmo, a exportação do produto, o Brasil deixou de investir em novas refinarias e estagnou o setor, obrigando-se atualmente a importar os dois produtos; em 2011, as importações foram da ordem de US$ 7 bilhões em óleo diesel e US$ 1 bilhão em gasolina. Os dados de 2012 ainda não se encontram disponibilizados, uma vez que, para evitar contabilizar as importações de derivados de petróleo e não prejudicar o saldo da balança comercial, o Governo autorizou a Petrobras a espaçar a comunicação dos dados à Receita Federal. O que se sabe é que as importações de gasolina e óleo diesel no ano passado foram ainda maiores que os US$ 8 bilhões auferidos em 2011. Prevê-se, para este ano, um aumento ainda maior das importações desses produtos.
Ao estimular a venda de veículos, a taxa de crescimento do consumo dos dois derivados vem crescendo a mais de 6% ao ano. Para fazer frente a este quadro, a Petrobras anunciou vultuosos investimentos para ampliar a capacidade de refino do país. Com efeito, no plano de investimento plurianual da Petrobras constam quatro novas refinarias, a saber: o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), a Refinaria Abreu e Lima (Pernambuco) e as refinarias Premium I e Premium II. Já a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC) teve suas obras iniciadas em agosto de 2009, no Pólo Industrial de Guamaré, no Rio Grande do Norte.
A Petrobras conta hoje com 14 refinarias em atividade: Refinaria de Mataripe; Refinaria Landulpho Alves (RLAM); Recap; Refinaria Isaac Sabbá ou Refinaria de Manaus (REMAN); Refinaria de Duque de Caxias (Reduc); Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR); Refinaria Gabriel Passos (REGAP); Refinaria de Paulínia (REPLAN); Superintendência de Industrialização do Xisto (SIX); Refinaria Presidente Getúlio Vargas ou Refinaria do Paraná (REPAR); Refinaria Henrique Lage (REVAP) e a Refinaria Presidente Bernardes - Cubatão (RPBC).
Duas refinarias privadas estão em operação, a Dax Óleos, localizada na Bahia e a Univen Petróleo localizada no município paulista de Itupeva. A terceira refinaria privada, a Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro, teve seu terreno desapropriado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
As atividades de refino são bem mais lucrativas para o país do que a extração de petróleo cru, pois a primeira acrescenta valor ao produto bruto extraído da terra ou do mar. Seja o petróleo pesado, a maioria da produção brasileira, seja o petróleo leve do pré-sal, não há independência e segurança energética sem o refino, passo essencial para assegurar a oferta de produtos fundamentais, fonte de uma indústria petroquímica poderosa e de independência.