TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

quarta-feira, 20 de junho de 2012


Muito petróleo, poucos profissionais

 



















Ipea estima que, nesta década, faltarão engenheiros 
capacitados no setor, sobretudo para o pré-sal. 
As chances também são muitas para os cargos 
de níveis médio e técnico. 
Por isso, há empregos 
praticamente garantidos para especialistas dessa área. 
E ainda dá tempo de se capacitar

Manoela Alcântara - Correio Braziliense
Quando entraram na faculdade de engenharia mecânica, 
Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro Martins, 26, não imaginavam 
um mercado tão aquecido ao obterem o diploma. 
Logo depois de concluírem a graduação, ambos já 
estavam empregados. O primeiro no setor público e o 
outro na área privada. Pessoas como eles terão lugar ainda 
mais garantido no mercado de trabalho com o passar do tempo.
 Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a contratação de 
engenheiros capacitados nas áreas de petróleo e gás, 
construção civil, mineração, biotecnologia e metrologia ficará 
mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo Radar nº 12 –
 Mão de obra e crescimento, divulgado pelo Instituto de 
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices 
de desvio de função registrados nessas áreas. 
A pesquisa aponta que, entre os graduados, 
apenas 38% atuam na especialidade para a 
qual se formaram. Considerada apenas a necessidade 
para o setor de petróleo e gás, que será o de maior
crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea), há vagas 
para as mais diversas funções, também em níveis médio e 
técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de 175 
especialidades diferentes de atuação, desde a extração 
até o refino do combustível.

As oportunidades são para cidades ou estados que têm 
atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco, 
Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem 
específicos, como soldar um tubo de condução de 
petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras. 
Em alguns casos, é necessário ficar longe da família
 e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades 
são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível 
médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o de 
nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um profissional mais
 experiente, com diploma técnico, embolsa aproximadamente 
R$ 8 mil mensais. Já os trabalhadores seniores, graduados e 
com especializações têm salários de R$ 20 mil ou mais.

A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa que o 
governo deu início, em 2003, ao Programa de Mobilização 
da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp). 
“Por meio do Plano Nacional de Qualificação Profissional, 
os interessados podem participar de uma seleção, 
lançada em edital no site www.prominp.com.br. 
Eles são treinados recebendo uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”, 
alerta a gerente-executiva do Serviço Nacional de 
Aprendizagem Industrial (Senai), Mônica Côrtes de Domenico. 
Depois de concluir o curso em um dos 80 parceiros do programa, 
como o Senai, é possível incluir o currículo em um banco de 
talentos, procurado pelas mais diversas empresas.

Na capacitação, podem ser formadas pessoas de 
todos os níveis, inclusive engenheiros que queiram
 se especializar em áreas específicas. “Os cursos nos dão 
um bom parâmetro. Eles já chegam com alguma experiência e
 isso é muito positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos 
as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram o 
interesse e fazemos um serviço de investimento a médio e 
longo prazo”, relata Cristiane Mendes, analista de Recursos 
Humanos da Queiroz Galvão Óleo e Gás.

Um caminho comum mesmo no setor público. Thiago Carneiro 
Campelo, 25 anos, ainda estava na universidade quando decidiu 
prestar um concurso para a Petrobras, em 2008. Aprovado em
 14º lugar, no ano seguinte foi convocado. “Quando estava 
estudando, queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras 
que descobri o quão interessante e promissora pode ser a área do petróleo”,
 afirma.

Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da comercialização
 da empresa, com produtos derivados e consultorias a empresas 
em todo o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja com
 frequência para atender os clientes. “O setor de energia é muito 
abrangente. A vaga para a qual concorri exigia apenas a graduação 
em engenharia. Aqui, temos uma nova formação”, observa. 
Pensando no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação 
em gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade de 
migrar para o serviço mais específico em plataformas no mar 
ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais rápida e 
o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o regime de 
confinamento, quero investir também em capacitação para 
essa especialidade”, projeta o engenheiro mecânico da Petrobras.

Segundo previsto em acordo coletivo das categorias, quem 
trabalha em plataformas deve ter disponibilidade para ficar
 15 dias confinado no mar ou em terra. Depois, são 20 dias 
de folga, dependendo da atividade e do regime seguido pela empresa.

Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em 
alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos 
instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o investimento
 em mão de obra. Por isso, quem quiser ingressar nesse 
mercado precisa iniciar a qualificação agora. Um dos fatores 
que mais influenciam na mudança de cargos e crescimento 
dentro das empresas é a experiência. “É preciso galgar funções.
 Ninguém começa sendo logo sondador (operador de guinchos 
de sondas de perfuração e outros instrumentos), por exemplo. 
Primeiro é preciso ser auxiliar de sondador. Assim acontece 
com os torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a analista
 de RH da Queiroz Galvão.

Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas 
privadas é ficar atento às seleções para trainee. 
Depois de escolher os melhores recém-graduados, 
as empresas os fazem passar pelos mais diversos 
setores até aprender o que precisam para serem 
efetivados. Esse treinamento faz a diferença no crescimento
 e na melhoria de salário. “Não treinamos as pessoas em vão.
 Oferecer todo um preparo e depois perdê-los para o mercado 
seria burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem mais
 programas de retenção de talentos”, afirma Cristiane Mendes.

Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade como trampolim. 
Logo após se formar, passou em uma seleção de trainee e
 ingressou em uma empresa de sabão em Luziânia (GO). 
Ele já sabia que de lá queria saltar para a área de petróleo e gás.
 Ficou quase um ano na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro,
 sua cidade natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região.
 “Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa 
de plataformas. A experiência que tive em Goiás contou 
muito para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos 
de trabalho são essenciais para o crescimento. 
Os profissionais seniores são especialistas e têm
 salários altíssimos. Quero chegar lá”, ressalta Álvaro.

Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil, 
até 2014, apenas para a exploração da camada do pré-sal, 
é de 241 mil por dia. Em 2020, esse número sobe para 
1,078 milhão barris/dia. Só para a empresa, até 2013, 
está previsto um aumento de quantitativo de pessoal por 
meio de concurso público de 6 mil pessoas, além de 800 mil 
empregos indiretos, segundo a Petrobras. A mais recente 
seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro, 
com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico, 
moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro.

Em Brasília, as capacitações estão nas formações de 
nível superior. Há três anos, por exemplo, além dos
 cursos de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB) 
criou a formação em engenharia de energia. Com uma visão 
ampla para atender os mercados das mais diversas formas de 
geração de energia, como as renováveis e não renováveis,
 a formação tem matérias específicas e abrangentes para uma 
forte formação química. “Os alunos aprendem muito sobre 
essa área de petróleo, refinaria, como transformar petróleo 
em gasolina, diesel. É um mercado de trabalho muito amplo 
e eles terão uma noção de todas as áreas, inclusive sobre 
a preservação do meio ambiente, essencial nos dias atuais”,
 ressalta o coordenador do curso de engenharia de
 energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.

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