TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O petróleo do nordeste

É fim do dia no sertão. Quase nada se ouve, só o vento e o ranger dos cavalinhos. Eles sugam a riqueza da terra árida, trazem à superfície cerca de 100 mil barris de petróleo todo dia.

O sobe-e-desce até parece preguiçoso, mas os cavalinhos trabalham dia e noite, sem descanso. Espalhados pela caatinga, eles já respondem por mais de 5% de todo o petróleo que o Brasil produz.

Andando pelo sertão, a gente vê muitas máquinas iguais, uma atrás da outra. Lá elas são conhecidas como cavalinhos de pau. De fato, no começo, eram feitas de madeira. As máquinas, hoje metálicas, bombeiam o petróleo que está debaixo da terra, a uma profundidade de 200, 300 metros.

Só na região visitada por nossa equipe, no estado do Rio Grande do Norte, existem mais de 5.500 cavalos mecânicos, que mudaram a paisagem e a vida de muito sertanejo.

Francisco Ferreira da Silva viu jorrar petróleo bem na frente de casa. A janela da sala hoje dá vista para o poço. Depois deste, mais três poços foram perfurados nas terras do açougueiro.

O dono da propriedade tem direito a 1% do óleo que é extraído, diz a lei. "Tem mês que vem até dois mil", conta Francisco.

Dois mil. É bem mais do que Francisco ganha com o abate e a venda de porcos. Ele anda rindo à toa! "Você está deitado aqui e pegar 300 contos, pegar 400 em um poço desses... Se pudesse, furava até em cima da casa", brinca ele.

O Rio Grande do Norte é o estado com o maior número de pessoas ganhando dinheiro com os cavalinhos de pau: quase 950 donos de terra estão dividindo uma bolada. No ano passado, foram mais de R$ 24 milhões.

Clidenor da Fonseca, o Seu Nina, plantador de tomates, pai de sete filhos, tem a mão calejada na roça. Hoje é fazendeiro e produtor de petróleo considerado de um porte médio para a região.

Seu Nina nos convidou para conhecer a fazenda. É terra a perder de vista. "No dia em que eu fui pagar a escritura dessa propriedade, que era o sonho da minha vida, eu passei não sei quantos dias sem dormir", conta ele.

Na propriedade de Seu Nina, há 20 cavalinhos em franca produção. "Hoje eu me acho bem rico", diz ele.

Com o dinheiro do petróleo, tem gente que compra mais terra, onde se perfuram mais poços, de onde se extrai mais e mais petróleo.

Em uma fazenda há 86 cavalinhos mecânicos funcionando. É a fazenda do Seu Francisquinho.

Encontramos o Seu Francisquinho, ex-servente de pedreiro, numa loja de materiais de construção. A loja é dele e a madeireira, também. Seu Francisquinho tem cinco caminhões e se tornou empresário da construção civil em uma cidade vizinha à fazenda.

"Aqui em João Câmara, eu já construí mais de 500 casas", diz ele.

As últimas 30 casas acabam de ser vendidas, ficam em um condomínio fechado. Agora Seu Francisquinho está negociando com investidores espanhóis. Em uma área que não tem petróleo, eles querem construir um hotel e mais 700 casas.

"É uma parceria. Nós vamos entrar com a minha gleba de terra, no valor de R$ 5 milhões", explica Seu Francisquinho.

Você deve estar curioso para conhecer a casa de Seu Francisquinho. "A minha tem oito suítes. Vale R$ 500 mil", conta ele.

A casa fica de frente para uma das mais belas praias do Rio Grande do Norte. O patrimônio dos donos da terra em nada lembra o passado. Seu Cândido Mulatinho tem ainda mais poços do que Seu Francisquinho: são 107.

"Recebo, por mês, R$ 34 mil, às vezes, baixa, às vezes, sobe", diz ele.

Seu Cândido só anda de carro importado e paga tudo em dinheiro vivo. "Eu fui comprar um carro, uma vez, em Natal, eu peguei, botei em um plástico o dinheiro. Eu digo: 'Assim é mais bonito. Conte'", brinca Seu Cândido.

Mas o futuro é incerto e muito homem bem de vida se nega a abandonar os velhos costumes. Ninguém sabe, ao certo, até quando vão os tempos de fartura no sertão.

"E quando esse petróleo se acabar?", lembra Clidenor da Fonseca.

"Dizem que vai se acabar, daqui a dez anos, vinte anos está se acabando tudo. Aí, ninguém sabe. Não tenho medo, não. Porque aí a gente vai trabalhando de outro jeito, vai levando", diz o produtor de petróleo Ranilson de Melo.

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