TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Muito petróleo, poucos profissionais


Ipea estima que, nesta década, faltarão engenheiros 
capacitados no setor, sobretudo para o pré-sal. As chances 
também são muitas para os cargos de níveis médio e técnico.
 Por isso, há empregos praticamente garantidos para 
especialistas dessa área. E ainda dá tempo de se capacitar

Manoela Alcântara - Correio Braziliense

Quando entraram na faculdade de engenharia 
mecânica, Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro 
Martins, 26, não imaginavam um mercado tão 
aquecido ao obterem o diploma. Logo depois de 
concluírem a graduação, em 2008, ambos já 
estavam empregados. O primeiro no setor 
público e o outro na área privada. Pessoas 
como eles terão lugar ainda mais garantido 
no mercado de trabalho com o passar do tempo. 
Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a 
contratação de engenheiros capacitados nas 
áreas de petróleo e gás, construção civil, 
mineração, biotecnologia e metrologia ficará 
mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo
 Radar nº 12 – Mão de obra e crescimento, divulgado 
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices 

de desvio de função registrados nessas áreas. 
A pesquisa aponta que, entre os graduados, 
apenas 38% atuam na especialidade para a 
qual se formaram. Considerada apenas a 
necessidade para o setor de petróleo e gás, 
que será o de maior crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea), 
há vagas para as mais diversas funções, também em níveis 
médio e técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de 
175 especialidades diferentes de atuação, desde a extração 
até o refino do combustível.

As oportunidades são para cidades ou estados que têm 

atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco, 
Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem 
específicos, como soldar um tubo de condução de 
petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras. 
Em alguns casos, é necessário ficar longe da família 
e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades 
são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível 
médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o 
de nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um 
profissional mais experiente, com diploma técnico, 
embolsa aproximadamente R$ 8 mil mensais. Já os 
trabalhadores seniores, graduados e com especializações 
têm salários de R$ 20 mil ou mais.

A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa 

que o governo deu início, em 2003, ao Programa de 
Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e 
Gás (Prominp). “Por meio do Plano Nacional de 
Qualificação Profissional, os interessados podem 
participar de uma seleção, lançada em edital no 
site www.prominp.com.br. Eles são treinados recebendo 
uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”, alerta a 
gerente-executiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai),
 Mônica Côrtes de Domenico. Depois de concluir o 
curso em um dos 80 parceiros do programa, como o
 Senai, é possível incluir o currículo em um banco 
de talentos, procurado pelas mais diversas empresas.

Na capacitação, podem ser formadas pessoas 

de todos os níveis, inclusive engenheiros 
que queiram se especializar em áreas específicas.
 “Os cursos nos dão um bom parâmetro. Eles já 
chegam com alguma experiência e isso é muito 
positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos 
as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram 
o interesse e fazemos um serviço de investimento a 
médio e longo prazo”, relata Cristiane Mendes, 
analista de Recursos Humanos da Queiroz Galvão 
Óleo e Gás.

Um caminho comum mesmo no setor público. 

Thiago Carneiro Campelo, 25 anos, ainda estava 
na universidade quando decidiu prestar um concurso 
para a Petrobras, em 2008. Aprovado em 14º lugar, 
no ano seguinte foi convocado. “Quando estava estudando, 
queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras que 
descobri o quão interessante e promissora pode ser a área 
do petróleo”, afirma.

Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da 

comercialização da empresa, com produtos 
derivados e consultorias a empresas em todo 
o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja 
com frequência para atender os clientes. “O setor 
de energia é muito abrangente. A vaga para a qual 
concorri exigia apenas a graduação em engenharia. 
Aqui, temos uma nova formação”, observa. Pensando 
no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação em 
gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade 
de migrar para o serviço mais específico em plataformas 
no mar ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais 
rápida e o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o 
regime de confinamento, quero investir também 
em capacitação para essa especialidade”, projeta o engenheiro 
mecânico da Petrobras.

Segundo previsto em acordo coletivo das categorias, 

quem trabalha em plataformas deve ter disponibilidade 
para ficar 15 dias confinado no mar ou em terra. Depois, 
são 20 dias de folga, dependendo da atividade e do regime 
seguido pela empresa.

Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em 

alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos
 instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o
 investimento em mão de obra. Por isso, quem quiser 
ingressar nesse mercado precisa iniciar a qualificação agora. 
Um dos fatores que mais influenciam na mudança de cargos e 
crescimento dentro das empresas é a experiência. “É preciso 
galgar funções. Ninguém começa sendo logo sondador 
(operador de guinchos de sondas de perfuração e 
outros instrumentos), por exemplo. Primeiro é preciso 
ser auxiliar de sondador. Assim acontece com os 
torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a 
analista de RH da Queiroz Galvão.

Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas 

privadas é ficar atento às seleções para trainee 
(veja matéria na página 3). Depois de escolher os 
melhores recém-graduados, as empresas os fazem 
passar pelos mais diversos setores até aprender o 
que precisam para serem efetivados. Esse treinamento
 faz a diferença no crescimento e na melhoria de salário.
 “Não treinamos as pessoas em vão. Oferecer todo um 
preparo e depois perdê-los para o mercado seria 
burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem 
mais programas de retenção de talentos”, afirma 
Cristiane Mendes.

Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade 

como trampolim. Logo após se formar, passou em 
uma seleção de trainee e ingressou em uma empresa 
de sabão em Luziânia (GO). Ele já sabia que de lá queria
 saltar para a área de petróleo e gás. Ficou quase um ano 
na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade 
natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região. 
“Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa de 
plataformas. A experiência que tive em Goiás contou muito 
para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos de 
trabalho são essenciais para o crescimento. Os profissionais
 seniores são especialistas e têm salários altíssimos. Quero chegar lá”,
 ressalta Álvaro.

Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil, até 2014, 

apenas para a exploração da camada do pré-sal, é de 241 
mil por dia. Em 2020, esse número sobe para 1,078 milhão barris/dia. 
Só para a empresa, até 2013, está previsto um aumento de 
quantitativo de pessoal por meio de concurso público de 6 mil 
pessoas, além de 800 mil empregos indiretos, segundo a Petrobras. 
A mais recente seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro, 
com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico, 
moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro.

Em Brasília, as capacitações estão nas formações de nível 

superior. Há três anos, por exemplo, além dos cursos 
de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB) criou 
a formação em engenharia de energia. Com uma visão ampla 
para atender os mercados das mais diversas formas de geração 
de energia, como as renováveis e não renováveis, a formação tem 
matérias específicas e abrangentes para uma forte formação 
química. “Os alunos aprendem muito sobre essa área de 
petróleo, refinaria, como transformar petróleo em gasolina, 
diesel. É um mercado de trabalho muito amplo e eles terão uma 
noção de todas as áreas, inclusive sobre a preservação do meio 
ambiente, essencial nos dias atuais”, ressalta o coordenador do 
curso de engenharia de energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.

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