TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

sábado, 23 de fevereiro de 2013


As cinco perguntas que não podem faltar no mercado de óleo e gás

Economista e doutor em Relações Internacionais, Paulo Wrobel analisa mercado que mais cresce no Brasil e no mundo
NNpetro - Amanda Magalhães - 
A 5X Petróleo dessa semana é com o economista, mestre em Ciência Política e doutor em Relações Internacionais, Paulo Wrobel. Paulo trabalha como pesquisador, analista e consultor, tendo se especializado em energia e relações internacionais. Atualmente, ele tem uma coluna no portalNNpetro, publicada toda sexta-feira, onde analisa os principais fatos do setor de O&G, e é professor no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. Em cinco perguntas, ele consegue definir um panorama claro do setor de óleo e gás no Brasil, analisa o valor da informação para o mercado, aborda as polêmicas que envolvem a Petrobras, aponta as principais empresas que atuam no setor, e fala sobre as oportunidades de trabalho e formação dos profissionais da área. Confira!
1X) O Brasil está no rumo certo quando se trata  de exploração e produção de petróleo? Qual o futuro deste mercado? O que ainda falta para o Brasil neste setor?
Paulo Wrobel –  Acredito que poderíamos estar bem mais à frente do que estamos. Houve um viés ideológico nas mudanças na Lei do Petróleo que, no caso do pré-sal, sobrecarregaram demais a Petrobras. A maior intervenção do Estado no setor acaba por dificultar os investimentos e atrasar o processo de exploração e produção. A ANP, por exemplo, passou quatro anos sem realizar nenhuma rodada de licitação de novas áreas, tanto no pré-sal quanto em outras áreas, on e offshore. A regra que exige conteúdo nacional nos equipamentos usados pelo setor é bem intencionada, mas talvez esteja exigindo demais da indústria nacional e contribuindo para o atraso na produção. O futuro deste mercado é crescer, não há nenhuma dúvida. Apesar da expansão da produção de renováveis para o transporte, como o etanol e o biodiesel, o petróleo ainda será o principal combustível por muito tempo. A demanda está estagnada nos países mais prósperos, mas crescendo muito nos emergentes. Enquanto isso, o gás natural é cada vez mais importante na matriz energética de muitos países, inclusive o Brasil. O que faltaria ao Brasil neste setor seria retirar a mão pesada do Estado na produção direta, deixar que a ANP regule o setor de forma competente e isenta.
2X) Para quem pretende atuar neste mercado, qual a formação ideal? O ensino Superior no Brasil oferece a qualificação adequada que o mercado exige?
Depende do setor. Esta é uma área que precisa muito de técnicos especializados em uma gama enorme de saberes específicos. Para esses, o ensino superior não é necessariamente o melhor caminho. Para os que ingressam na carreira para cargos mais altos, os cursos de boa parte das engenharias, química, biologia e outros me parecem que seriam os mais apropriados. A qualidade dos cursos, nas principais universidades públicas e em algumas particulares, é boa, mas não em número suficiente para abastecer o mercado. Lembro que países como China e Índia formam centenas de milhares de engenheiros e tecnólogos por ano, o que vem lhes proporcionando uma vantagem competitiva. As empresas no Brasil se queixam de falta de mão de obra especializada no setor de óleo e gás; assim, o ensino profissionalizante e superior brasileiro não está dando conta da demanda requerida.  
3X) Na sua opinião, qual o valor da informação no mercado de óleo e gás?
Fundamental, um mercado que se expande à taxa que óleo e gás vêm se expandindo no Brasil e em outras partes do mundo, conhecer quais são as principais prioridades, as tendências de investimentos, onde há carência de mão de obra, e qual seria o futuro de um recurso finito como os combustíveis fósseis, são cruciais para se manter competitivo em um mercado em constante mudança. Além disso, é muito importante acompanhar os principais desenvolvimentos no cenário internacional, que podem influenciar o setor no Brasil. Finalmente, o avanço tecnológico bem como as questões ambientais são, cada vez mais, variáveis cruciais para a indústria de óleo e gás.
4X) Que empresas se destacam no mercado de óleo e gás? E como se destacar no mercado brasileiro? Você acredita que a Petrobras irá se recuperar? Alguns analistas acreditam que torná-la uma empresa privada seria um caminho, você concorda?
Ainda é um mercado muito dominado pela Petrobras. E vai ficar mais ainda com as novas regras que exigem que a empresa possua 30% da exploração em todos os poços do pré-sal. Entre as grandes empresas do setor, destacaria a Statoil, BG, Galp e BP. Não destacaria nenhuma nos mercados de fornecedores de bens e serviços para não ser injusto, pois trata-se de um enorme número de pequenas e médias empresas, nacionais e estrangeiras, que vem lutando bravamente para conquistar um lugar ao sol.
Acho que seria politicamente muito difícil, e talvez mesmo desnecessário, privatizar a Petrobras. Ela tornou-se um ativo e um símbolo muito forte das conquistas do país no setor, e é inegável que houve muitos avanços tecnológicos importantes na exploração de águas profundas, por exemplo, que a tornaram empresa líder mundial. Apontaria, entre outras, três direções, que poderiam ser levadas em consideração para sanar a empresa: administração rigidamente profissional e não politização dos cargos mais importantes, como ocorreu recentemente; postura mais realista do Governo em não usar os preços dos combustíveis como parte da estratégia anti-inflacionária – deveria ser devolvida à empresa a capacidade de comercializar seus produtos aos preços internacionais –; ser mais judiciosa em suas decisões e planos de investimento. Comprometimentos no mínimo discutíveis foram realizados pela empresa na gestão anterior, o que contribuiu para atraso de obras e da produção, descapitalização e queda vertiginosa do valor patrimonial.
5X) Qual a sua experiência no mercado de óleo e gás e qual a sua expectativa como colunista do portal NNpetro?
Minha experiência é de analista da evolução do setor energético no Brasil e no mundo. Com minha formação em economia e relações internacionais, e o acompanhamento cotidiano dos temas de energia, estou preparado para interpretar os principais acontecimentos do setor e suas implicações para a economia, política e sociedade. Trata-se de um setor muito importante para a economia do país (responsável por quase 10% do PIB e pode alcançar 20% até 2020), com empresas fortes e grande rede internacional de investidores e fornecedores de produtos e serviços. Possuir visão clara do plano internacional é fundamental para este setor, que vem avançando rapidamente o plano internacional. Uma vez que não é apenas no Brasil onde se deram recentes descobertas de novos depósitos de hidrocarbonetos, o país disputa mundialmente alocações de decisões de investimento. Trata-se de um setor muito internacionalizado, onde as empresas multinacionais perderam o domínio financeiro e tecnológico que possuíam até as últimas décadas do século passado. As empresas nacionais de petróleo têm, hoje, oportunidade única de combinar eficiência com planos de investimento exequíveis. O NNpetro vem, a meu ver, cumprindo em alto nível uma tarefa importantíssima para todos aqueles que trabalham ou acompanham o setor, qual seja a de informar, analisar e educar, no intuito de fortalecer este setor tão decisivo para a economia e a sociedade.

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