TURMA DO PETRÓLEO

TURMA DO PETRÓLEO

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Petrobras: Uma gigante com pés de barro?

Estatal precisa 'correr atrás do prejuízo' para não afundar
Colunista Paulo Wrobel - 
Na semana em que foi anunciado o tão aguardado reajuste nos preços da gasolina e do óleo diesel, os investidores reagiram negativamente. Com efeito, o pregão da BOVESPA, no dia seguinte ao anúncio, teve a Petrobras como a segunda maior queda do dia. As ações ordinárias e preferenciais da empresa caíram mais de 4%, uma vez que analistas e investidores parecem não confiar que reajustes tão exíguos (6,6% para gasolina e 5,4% para diesel, preços na refinaria) trarão o fôlego financeiro necessário para a estatal capitalizar-se e cumprir o ambicioso programa de investimentos. Os lucros previstos para 2013, por analistas do JP Morgan, caíram de R$ 37 bilhões para R$ 33,5 bilhões.
Desde setembro de 2005 que o preço da gasolina não era reajustado para o consumidor. Durante este período, os reajustes decretados pelo governo no preço do produto foram compensados através de reduções na Cide, mantendo o preço constante para o consumidor. Na medida em que os preços internacionais do petróleo sofreram grandes variações nos últimos anos, a Petrobras teve que bancar a diferença. Boa parte da explicação para a não confiança de analistas e investidores remete à defasagem entre os preços praticados no Brasil e os preços internacionais do petróleo e seus derivados, produtos que a Petrobras vem importando em quantidades crescentes. Os preços domésticos vêm sendo usados como instrumento anti-inflacionário, e a empresa foi se descapitalizando. O valor das ações da Petrobras, tanto as ordinárias quanto as preferenciais, refletem esta situação e perderam 45% de seu valor nos últimos três anos.
A troca no comando da empresa, em 2012, já evidenciava que a Petrobras não vinha sendo bem administrada. A entrada de Graça Foster, uma técnica experiente formada na empresa, deixou entrever que a administração de um economista, do quadro do PT baiano, não teria conduzido bem a empresa. Talvez não se possa dizer que a empresa tenha sido aparelhada pelos partidos no poder, mas certamente os principais cargos haviam sido politizados. Como vimos no caso da Venezuela, o aparelhamento da PDVESA levou a seriíssimos problemas de gestão e queda na produção.
As primeiras medidas da nova administração foram: a liquidação de ativos não essenciais, o enxugamento do programa de investimentos e a maior concentração nos investimentos domésticos. Em maio de 2008, a empresa havia atingido o valor de mercado máximo em sua história, alcançando a cifra de R$ 510,4 bilhões, tornando-a a terceira maior empresa das Américas. Depois desse pico, a situação começou a deteriorar-se e o valor de mercado começou a cair. Sem capital em caixa e tendo que arcar com os custos crescentes de importação, a Petrobras passou de cinderela a patinho feio no firmamento governamental e dos investidores nacionais e estrangeiros.
As tarefas diante da empresa são inúmeras. Apesar de enxugar os planos de investimento para os próximos anos, a atual administração tem que investir em poços mais antigos que estão produzindo menos, manter o ritmo de investimento nos poços já em produção do pré-sal, preparar-se para a nova rodada de licitações que terão lugar em maio e em novembro deste ano, bem como para os 30% de todos os novos poços do pré-sal que a empresa deverá assumir como resultado da introdução do sistema de partilha. 

O autor
Paulo Wrobel é economista, cientista político, pesquisador, analista e especialista em relações internacionais. Trabalhou como consultor internacional na Embaixada do Brasil em Londres durante nove anos, foi assessor de ciência e tecnologia, ocupou o cargo de chefia na Área de Estudos Latinoamericanos para o The Royal Institute of International Affairs, foi pesquisador associado no Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, Lisboa

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