TURMA DO PETRÓLEO

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Podemos criar uma indústria química sem impactos ambientais?

Colaboração - Marco Polli e Marco Fraga - 
A ciência química permite ao homem realizar transformações íntimas na estrutura da matéria. O seu desenvolvimento e industrialização, a partir do século XVIII, significou que essas transformações passaram a se realizar em um escala massiva, tendo efeitos mais e mais abrangentes. A cada vez que inovações mudavam a base tecnológica dessa indústria, produtos e serviços inéditos chegavam à sociedade, assim como surgiam problemas ambientais novos e complexos. Chuva ácida, redução da camada de ozônio, aumento da incidência de câncer, resíduos de plásticos nos mares, toneladas de resíduos sólidos perigosos geradas diariamente, todos foram desafios com que a indústria e a sociedade tiveram que aprender a lidar e que tiveram até agora resultados com grau variado de eficácia. Neste artigo, buscaremos identificar essas principais mudanças tecnológicas e desafios ambientais relacionados à evolução do setor químico, assim como discutir se uma indústria química “verde”, com impactos nulos ou mínimos poderia surgir a partir de novas tecnologias.
O setor químico sempre teve como vocação principal suprir outros setores da economia. Foi a demanda por alvejantes pela nascente indústria têxtil que impulsionou as primeiras unidades químicas. Assim, foi a Europa do século XVIII que teve que lidar com os primeiros impactos dessa atividade, os quais, no caso da fabricação de pó de soda pelo processo Leblanc, foram a emissão de vapores de ácido clorídrico e de uma mistura lodosa de enxofre, cálcio e carvão não utilizado.
O próximo estágio de evolução da indústria química esteve também ligado à indústria têxtil. Havia, ainda no século XIX, uma dependência por produtos de origem natural para tingir os tecidos, o que trazia dificuldades de acesso, uniformidade do corante e variedade de cores. A malva e o índigo, sintetizados em laboratório pela primeira vez em 1856 e 1880, respectivamente, foram marcos por trazerem aplicações comerciais a partir da química orgânica. Não se trata apenas de criar e produzir novos corantes, mas de desenvolver teorias e procedimentos que dariam origem a milhares de moléculas novas, as quais poderiam ser usadas em medicamentos, pesticidas, materiais para a construção civil, entre tantos usos funcionais. Deve-se notar que a manipulação das cadeias de carbono e de seus radicais podia recriar compostos moleculares já presentes na natureza, mas também trazer à luz materiais nunca antes vistos. Assim, ganhou-se um grande potencial para se criar novas soluções para a sociedade, ao mesmo tempo em que se punha a questão de como esses materiais sintéticos viriam a interagir com o corpo humano e com o meio ambiente. Os problemas mais imediatos vieram com contaminação tóxica e mesmo casos de câncer entre operários das indústrias químicas.
Percebe-se claramente, nesse breve olhar sobre a evolução da indústria química, que ela sempre esteve em um contexto delicado e contraditório. Tendo o reconhecido papel vital de prover diferentes setores da economia, impulsionando o desenvolvimento e gerando produtos que permitiram melhores condições de vida à sociedade, cada vez mais vinham sendo impostos ao setor químico a preocupação com as questões ambientais, os desafios de uma produção mais limpa e a necessidade da substituição de produtos poluentes ou danosos à saúde.
Pode-se esperar, inicialmente, o uso de recursos renováveis na manufatura dos mesmos compostos antes obtidos de fontes fósseis. Nesses casos, o desafio encontra-se no estabelecimento de novos processos capazes de beneficiar os mais distintos “blocos básicos de construção”, onde o uso de catalisadores é questão central. Iniciativas atuais já se utilizam dessa abordagem, notadamente na introdução dos plásticos verdes. Neste início de século, esses produtos são objetos de uma nova corrida tecnológica no setor industrial com forte impacto também nos setores correlatos da economia. A introdução dos polímeros verdes representou um importante passo na concretização de uma indústria química sustentável e uma significativa contribuição às políticas para crescimento do carbono neutro. Deve-se ressaltar, no entanto, que em alguns casos, os mais imediatos, o produto final em si ainda pode ser agente de poluição ambiental se descartado diretamente nos mais diversos ecossistemas.
O momento atual é rico, criativo e promissor para a indústria química e os sinais são perceptíveis. Esses grandes desafios motivados pelas questões ambientais que vêm sendo constantemente impostos ao segmento químico constituem ainda excelentes oportunidades de investimento e provocam a expansão das fronteiras do domínio tecnológico. A sustentabilidade do setor químico industrial é possível; contudo, não reside em apenas uma, mas em múltiplas soluções tecnológicas, além da organização de conjuntos integrados para fabricação de compostos químicos que atendam a diferentes setores econômicos.
(Com informações do site Comciência)

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