TURMA DO PETRÓLEO

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quarta-feira, 10 de abril de 2013


Pesquisadora fala sobre riscos das plataformas: 'um dos piores ambientes para se trabalhar'

Preparo físico e psicológico é fundamental para quem trabalha embarcado
Colaboradora Rachel Ann Hauser Davis - 
A área de petróleo offshore é caracterizada pela não interrupção de seus processos e operações durante os 365 dias do ano, exigindo apenas substituições nas equipes de trabalho, que se revezam de forma ininterrupta. Nessas condições de trabalho existem riscos intrínsecos e variados, caracterizados como sendo "técnicos, coletivos e ambientais". Os riscos técnicos são aqueles que têm origem em eventos tecnológicos e condições organizacionais, ou eventos naturais agravados pela tecnologia e organização; que vitimam ou podem vitimar indivíduos e comunidades, dentro e fora dos locais de produção, resultando em alterações ambientais significativas, sejam eventos agudos, destrutivos, sejam processos latentes, combinações inéditas, ou efeitos cumulativos, em parte desconhecidos.
Existem, é claro, vantagens de se trabalhar em plataformas de petróleo, como, por exemplo, os bons salários, devido ao chamado “adicional de embarque”, que varia de 50% a 140% do salário-base do trabalhador e os dias de folga seguidos, dependendo da escala a ser adotada, como, por exemplo, 14 dias embarcados e 14 dias em terra, ou até mesmo escalas de 28 dias embarcados e 28 dias em terra.
As desvantagens e os riscos, porém, aparentam ser de maior relevância. Destaca-se, em primeiro lugar, o confinamento ao qual o trabalhador é submetido. O profissional precisa, necessariamente, ter capacidade de ficar longe dos amigos e familiares por longos períodos de tempo e, em alguns casos, sem acesso à ligações telefônicas ou computadores, o que obviamente é muito difícil para os que deixam familiares próximos e entes queridos, como filhos (as) e marido/esposa em terra.
Outros riscos incluem a necessidade de pegar um helicóptero para embarcar na plataforma, inclusive sendo utilizado às vezes o transporte “via cestinha”, muito comum para fazer transbordos entre 2 embarcações. Este método de transporte é extremamente arriscado, pois a “cestinha” balança muito ao sabor dos ventos e existe a possibilidade de acidentes graves, dependendo das condições climáticas, que podem ser bastante adversas - desde o risco de furacões, chuva intensa, frio, ou altas temperaturas (acima dos 40º), dependendo do local onde está localizada a plataforma.
A rotina de trabalho puxado também se encontra na categoria de riscos, pois como não existem feriados e finais de semana para quem está embarcado, trabalhando-se 12 ou até mesmo 24 horas por dia, deve-se ter um preparo físico e psicológico para tal rotina, o que muitas vezes é bastante difícil. Além disso, a permanência durante muitos dias seguidos em confinamento em alto mar acaba elevando significativamente os riscos para os trabalhadores.
O ambiente hostil das plataformas - com válvulas e tubulações em todo canto, equipamentos enormes trabalhando a todo vapor, a existência de linhas pressurizadas, a necessidade de subir escadas a 30 ou mais metros de altura acima do nível do mar, a presença constante de ruídos altíssimos e guindastes movimentando cargas de toneladas sob a cabeça dos trabalhadores - também é um risco enorme, e, de fato, talvez este seja um dos piores ambientes para se trabalhar, sendo completamente diferente da maioria dos ambientes de trabalho usuais. Inclusive, diversos acidentes relacionados ao ambiente hostil da plataforma podem ocorrer ou já ocorreram. Alguns exemplos são a subida exagerada da pressão de alguma tubulação, podendo levar a uma explosão do poço sendo perfurado; ou a manobra errada de um guindaste, podendo deixar cair toneladas em cima de algum trabalhador; ou o estouro de alguma válvula liberando gases tóxicos. Além disso, como o ser humano não é infalível, o helicóptero que faz o transporte pode cair, ou um simples tropeção na escada pode provocar a queda de um trabalhador.
Assim, o trabalho offshore está constantemente submetido a processos e atividades complexas, perigosas, contínuas e coletivas, que envolvem diversos riscos à saúde e à vida do trabalhador.
A autora
Rachel Ann Hauser Davis é bióloga, Doutora em Química Analítica pela PUC-Rio, professora visitante da UNIRIO e pesquisadora da PUC, UERJ e UNIRIO.

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