TURMA DO PETRÓLEO

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sábado, 27 de abril de 2013


A polêmica sobre o gás de xisto na Europa

'No fundo, o gás de xisto é uma autêntica revolução, mas ainda mais um sintoma da necessidade de extrair todas as gotas de combustíveis fósseis que o mundo moderno ainda carrega'
Colunista Paulo Wrobel - 
Especialistas sabiam há muito tempo que haveria grandes quantidades embutidas de gás metano a serem exploradas nas camadas rochosas xistosas. O que estaria faltando para desenvolver o setor seriam o aperfeiçoamento e a sofisticação da tecnologia e o estímulo comercial fornecido pela sinalização dos preços. Os Estados Unidos abraçaram com gosto a exploração das jazidas rochosas, fazendo com que o preço do gás de xisto no mercado doméstico americano alcançasse US$ 5 por mil pés cúbicos, menos de um terço do preço do mercado spot internacional. Dado estes números, a tendência seria que a exploração das rochas se tornasse, com o tempo, uma atividade global. Isso vem sendo feito aos poucos, mas nem todas as regiões e países exibem o mesmo entusiasmo.  
Nos Estados Unidos, o baixo preço do gás de xisto tem levado muitas empresas a reconsiderar seus planos de investimento em novas perfurações, uma vez que a lucratividade não compensaria. Discute-se se a saída para elevar os preços seria a exportação do produto, reduzindo a oferta para o mercado doméstico. De outro lado, os que são contra as exportações levantam o argumento da segurança energética. Até agora, apenas uma licença de exportação foi concedida. De fato, a regulação do setor nos Estados Unidos compete aos governos estaduais, e, até hoje, apenas dois estados, Nova York e Vermont, não permitem a exploração do gás de xisto no limite de seus territórios.
A China possuiria as maiores reservas conhecidas de gás de xisto, a seguir viriam os Estados Unidos, Austrália, Argentina, África do Sul e partes da Europa. Na Europa, no entanto, muitos países ainda se mostram reticentes quanto a explorar o produto. França e Bulgária anunciaram que renunciam ao direito de produzi-lo, por questões ambientais ou de política industrial, enquanto outros países avaliam a possibilidade da extração. Dado que o gás natural é mais barato que o petróleo na criação de diversos produtos derivados dos combustíveis fósseis, as grandes empresas europeias do setor petroquímico estariam pressionando os políticos europeus a aceitar a exploração das jazidas de xisto, uma vez que os concorrentes americanos estariam obtendo vantagens na oferta abundante e barata do gás de xisto.
A questão da exportação americana de gás de xisto não é tão simples como parece. O gás, diferente do petróleo, não é exportado em um mercado global, mas, sim, regionalmente. Na Europa, o gás natural americano deve competir com o gás de gasodutos transportado da Rússia e Noruega, e o GNL importado de países como o Qatar. A Rússia, por sua parte, não anda muito satisfeita com a potencial competição americana e, quem sabe, europeia na oferta de gás natural para o atraente mercado europeu, e tudo indica que ela deverá usar seu peso político e capacidade de produção de gás natural convencional para se manter como fornecedor da região.
Na Europa, mais do que nos Estados Unidos, as questões regulatórias, especialmente as ambientais, são grave empecilho para o desenvolvimento do setor. O gás de xisto implica não apenas na emissão de gases na atmosfera (o metano é 20 vezes mais poluente que o CO2), mas inclui outros fatores, como riscos sísmicos antropogênicos, consumo excessivo e contaminação da água. Ademais, como em toda atividade de mineração, a exploração do gás de xisto incorre em profundas alterações na paisagem.
O gás de xisto europeu teria que competir com o gás convencional abundante e barato dos atuais fornecedores - Rússia, Noruega, Argélia e Holanda -, mas reservas notáveis deste gás foram descobertas na Polônia, França e Noruega. Na Polônia, o país europeu que vem desenvolvendo mais seriamente a exploração das reservas de gás de xisto, o gás natural representa, hoje, apenas 15% da matriz energética. Além disso, a Polônia não possui experiência no setor de petróleo e gás, sem a infraestrutura necessária para a exploração. No fundo, o gás de xisto é uma autêntica revolução, mas ainda mais um sintoma da necessidade de extrair todas as gotas de combustíveis fósseis que o mundo moderno ainda carrega.
O autor
Paulo Wrobel é economista, com mestrado em Ciência Política e doutorado em Relações Internacionais. Trabalha como pesquisador, analista e consultor, tendo se especializado em energia e geopolítica. Atualmente, é professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

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